Cultura

Imigração Alemã é marca cultural do Vale do Caí

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Nos dias atuais pode parecer exagero, contudo, há poucos anos, ainda era fato recorrente se deparar com pessoas que falavam, tão somente em alemão. E, pasmem, não estamos fazendo referência às pessoas com quase 100. Nas colônias do vale do Caí era comum encontrar crianças que falavam apenas o dialeto hunsrück. Chegavam na escola e pediam solenemente:
– Ich will wassa! (eu quero água)
Anos se passaram e, lamentavelmente, o alemão caiu em desuso, ficando quase que demodè, ou até, cafona para alguns. O perigo disso é a perda de uma identidade cultural construída através dos anos. A manutenção da faceta da sociedade multi-culti que vivemos precisa, necessariamente, ser mantida, e, até, ampliada.
Falamos disso, no momento, pois celebram-se 193 anos de imigração alemã no Rio Grande do Sul. Quanto mais será perdido nos próximos sete anos? Esperamos que nada, muito antes o contrário, mas não podemos ser utópicos. Ainda bem que, mesmo que por sátira, personagens salvem esse cenário cultural. Fazemos menção ao grupo de teatro Curto Arte, com as suas peças, inclusive a atual que fala da caçada final ao Thiltapes. Também, à dona Heda, que saiu da Rádio América para ter estrelato na tevê.
Nossa cultura teutobrasileira, todavia, vai muito além de personagens, por vezes escrachados ao extremo. Façamos um rápido apanhado cultural e vejamos que por aqui podemos nos orgulhar ser um pedacinho da Alemanha no Brasil.
Não seria uma Alemanha se não houvesse boas cervejas. E essas, pasmem, estão em plena expansão, e isso, ajudará a difundir a cultura musical e das danças. Afinal, uma puxa a outra. E entre um prosit e outro vem os stammtisch, como os que ocorrem na Feliz, Salvador do Sul, Tupandi… seja em evento privado ou público, uma boa cerveja sempre vem bem.
O canto coral, talvez seja o maior expoente da cultura imigrantista. Os que da Alemanha partiram cantavam a saudade de sua terra, do seu heimat. Hoje ainda, em vozes mistas, ou em corais masculinos e femininos, a cantoria parece não cessar, unindo das mais diferentes culturas.
A música, que caminha próxima ao canto coral, também tem muito de germanidade. Seja nos bailes, com música de bandinha, ou nos palcos com as orquestras de sopro – dentre as quais a WBK, uma das melhores do mundo – a música alemã tem sobrevida por muitos anos ainda.
E o que seria de uma música alemã sem dança? Pois, salve, salve a todos aqueles grupos de dança tradicional alemã que mantém a cultural dos Fritz e das Fridas bem viva.
Fato que também chama atenção no vale do Caí é a insistente busca pelas raízes, a tal ponto que, há quase duas décadas, São Vendelino, firmou intercâmbio com Sankt Wendel, por obra e graça da administração da cidade brasileira e a ajuda, fundamental, de Klaus Lauck e Jürgen Zimmer.
Um tanto inspirados em São Vendelino; Bom Princípio, Feliz, Salvador do Sul e Maratá, também, firmaram os seus intercâmbios com cidades alemãs. Respectivamente: Klüsserath, Nohfelden, Dickenschied e Rheinböllen.
As aulas de alemão, muitas em oficinas promovidas pelos municípios, também, são fundamentais para levar adiante o idioma. Se em casa não se fala mais tanto quanto em tempos idos, que seja em sala de aula, aprendendo um algo a mais sobre o idioma e a cultura do povo que veio da distante Europa.
Por falar em Europa, as Eurotrips, com viagens pelo velho continente parecem se reforçar, fazendo com que grupos de amigos procurem estreitar seus laços culturais atravessando o Atlântico.
Contudo, quem não tem condições de viajar pode ficar tranquilo. Muito nos assemelhamos, culturalmente, com a Alemanha. Destaque principal para a arquitetura. O estilo enxaimel, como as prefeituras de Salvador do Sul e Feliz, sem dúvida, são a prova de que nossa cultura viva está. Também residências, muitas delas beirando um século de construção, respeitam e preservam a história dos que já partiram.
Mas, o que mais se destaca, aos olhos de quem é de outra etnia, é a organização das cidades. Algo típico da cultura alemã, com ornamentos nas casas e os jardins, sempre, impecáveis. Quem conhece um pouco de cultura alemã sabe que jardins apenas são ornados quando, dentro de casa, estiver tudo nos conformes. Assim também, as cidades de origem alemã, demonstram sua qualidade de vida quando as praças e parques estão bonitos. Prima-se pela educação, saúde, sem esquecer, da beleza exterior.
Outra marca da colonização alemã é a confiança na “palavra” alheia. E isso, infelizmente, nem sempre é levado a sério por outras etnias, ou alguns “alemães” mais espertinhos.
Celebramos os 193 anos de imigração alemã na semana passada, contudo, é nossa obrigação intelectual e sanguinea, manter viva a cultura e difundi-la. Sejamos grandes o bastante de, jamais, esquecer as nossas raízes. Nossa cultura é marca indelével de incontáveis gerações. Sejamos, sempre, orgulhosos de nossas origens, fazendo com que a teimosia germânica vigore, ao menos, na manutenção do saber oral que perdura por séculos.

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